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“Egas Moniz”

“Egas Moniz”

“Egas Moniz” (1949) (José Malhoa, 1855-1933)

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A figura do nosso primeiro Prémio Nobel simboliza, por si só, a Medicina Portuguesa moderna. Para além de médico e de investigador, foi também um pensador, um escritor e um político de reconhecidos méritos. Destacou-se por ter sido um dos introdutores, a nível mundial, quer da arteriografia cerebral, quer da denominada psicocirurgia (leucotomia pré-frontal), o que contribuiu decisivamente para lhe atribuírem o referido prémio.

Ao consultar, uma certa vez, Margarida Pedrosa, a minha tia mais velha e irmã da minha mãe, pois esta pretendia saber se haveria hipótese de poder recuperar da hemiparesia que tinha como sequela de uma poliomielite que contraíra quando estava grávida da sua filha mais velha, este disse, depois de ouvir pacientemente a sua história clínica e de a observar com minúcia, com voz firme, mas tranquila: “Minha filha, eu também tenho uma artrite de longa evolução que não tem cura. A ti, calhou-te apanhares essa doença terrível, mas a ciência ainda não descobriu tratamento eficaz. Terás de te conformar, tal como eu e todos os que têm doenças crónicas para as quais não há presentemente cura ou recuperação possível”. A minha tia bebeu a sentença da eminência sem ponta de revolta e nunca mais quis ouvir alguma opinião de qualquer outro médico sobre este assunto. Era como que o ponto final definitivo nessa triste história. Teria de aprender a viver assim para o resto da vida. Ainda hoje é viva e assumiu desde logo o papel de matriarca de uma vasta família, tendo sempre muitas pessoas à sua volta. Foi feliz e fez os outros felizes. Com a ajuda do Professor e sem quaisquer exames auxiliares de diagnóstico ou tratamentos, assumiu convictamente que estes teriam sido completamente infrutíferos. Apenas com a confiança de quem sentiu bem fundo que tinha estado perante um verdadeiro mestre da medicina. De corpo e alma.

Egas Moniz nunca abandonou o exercício da clínica que acumulou com as restantes tarefas, tendo-se deparado, um certo dia, com um doente que, em estado de perfeita loucura, o baleou. Pôde, felizmente, recuperar deste terrível acidente, tendo sido operado por alguns dos seus discípulos. Não consta que as suas convicções de respeito pela ética e que determinam que coloquemos os interesses do doente em primeiro lugar, algum dia tenham sido abaladas. Talvez, até, no seu íntimo, tenha acontecido o inverso…

 

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