Notícias
Divulgação CulturalNureyev no espólio de Alberto de Lacerda
MOSTRA | 8 fev. – 14 abr. ’18 | Sala de Referência | Entrada livre
Alberto de Lacerda contava que, ainda adolescente, comprara num alfarrabista de Lourenço Marques um exemplar meio amarrotado da autobiografia de Isadora Duncan e que, a partir desse momento, algo de inesperado surgira na sua vida: a paixão pela dança.
Dessa paixão há inúmeros sinais. Bem mais do que sinais, há um legado. Uma coleção espantosa de fotografias, cartazes, programas de espetáculos, livros e obras de arte que reuniu, para além dos textos e poemas que escreveu. Espantosa porque revela simultaneamente o seu talento de colecionador, e a sua proximidade a uma arte exigente, difícil de acompanhar, que o obrigou a deslocações e despesas mas que lhe trouxe indizíveis recompensas.
No seu diário, pode ler-se:
Nova Iorque, 17 de Abril, 78
Cheguei ontem. Semanas especialmente difíceis. Possibilidades de emprego em Tucson, no Arizona, e de ensinar um curso na Columbia University em Nova Iorque. Nervos. Ansiedade.
Um horroroso cansaço – geral: do espírito, do corpo. Espero que a minha vida assente sobre o ponto de vista da sobrevivência material e volte àquilo que é o seu centro: o amor, a poesia e a vivência do real e do autêntico. Vim a Nova Iorque (com grande sacrifício) não para me evadir, mas para re-encontrar o real, o autêntico: neste caso, a dança, na encarnação suprema de Nureyev.
Rudolf Nureyev iniciou a sua carreira em Londres em 1962. Por essa altura, Alberto de Lacerda, que aí tinha chegado no início da década anterior, já se tinha relacionado com historiadores e críticos de dança, conhecido coreógrafos, dançarinos, gente pertencente a um mundo que nunca deixou de frequentar e que lhe proporcionou inspiração e deleite até ao fim da vida.
Para alguém que se deixou arrebatar por talentos e desempenhos tão diferentes como os que Alberto de Lacerda teve ocasião de presenciar ao longo da sua vida de espectador atento e privilegiado, seria talvez inútil tentar fazer uma lista dos que mais o impressionaram.
Mas há do seu próprio punho testemunhos que não deixam qualquer dúvida sobre quem mais admirou. No começo de 1991, numa carta a Luís Amorim de Sousa, então nos Estados Unidos, refere: «A minha musa morreu. O pranto não cessa». A musa era Margot Fonteyn. E para Alberto de Lacerda, Fonteyn e Nureyev eram a evidência do sublime.
Para alguém que não temia a ousadia de certas opiniões, Nureyev era supremo. Chamou-lhe mesmo «Deus supremo». E novamente «deus» quando, a 6 de janeiro de 1993, no seu diário, regista a sua morte: «Morreu um deus. Nureyev morreu hoje em Paris».
Uma semana mais tarde, ainda escreve:
«A morte de Nureyev tem-me pesado muito. Vê-lo mais de uma centena de vezes foi uma gande inspiração na minha vida. Devo-lhe enormemente; e por certo, a minha poesia também».
E, numa outra passagem do diário, registada em Nova Iorque:
«Jamais um bailarino foi tão plástico, tão proteico na apreensão e projecção do que na música é mais música, é mais irredutível a outra expressão».
Fonte: bnportugal.pt
Outros artigos em Divulgação Cultural:
Aula de dança | Danças Antigas. Contradanças do século XVIII I 27 maio ’23 I 10h00-13h00 I Sala Azul
Designamos por Dança Antiga o repertório coreográfico pertencente às cortes europeias entre os séculos XV e XVIII, com especial destaque para as fontes coreográficas escritas que, tendo chegado aos nossos dias, nos informam sobre a cultura e os hábitos palacianos.
Concerto | Caravelas na BNP | 25 maio ’23 | 18h00
O Caravelas – Núcleo de Estudos da História da Música Luso-Brasileira (CESEM, NOVA FCSH), em parceria com o Centro de Musicologia de Penedo (Alagoas, Brasil), organiza um concerto no âmbito do Festival de Música de Penedo, que terá lugar em Portugal entre os dias 25 e 26 de maio.
Performance | «Print temps» de Regina Frank | No encerramento da exposição «O tempo das imagens IV» | 4 maio ’23 | 18h00
Regina Frank apresenta, no encerramento da exposição O Tempo das Imagens IV. Edições recentes do Centro Português de Serigrafia (em exibição na BNP até dia 6 de maio), a performance PRINT TEMPS.
Exposição | Manuscritos musicais do Mosteiro de Belém. Uma tradição desconhecida | Inauguração: 3 maio ’23 | 18h00
A Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) possui um grande número de livros de coro provenientes do Mosteiro de Santa Maria de Belém, mais conhecido por Mosteiro dos Jerónimos. Estes manuscritos, apesar de representarem um testemunho precioso da vivência litúrgica e musical do Mosteiro, permaneceram durante muito tempo praticamente desconhecidos entre a comunidade musicológica.