Notícias
Divulgação CulturalMostra | Joel Serrão (1919-2008) | 16 set. – 16 nov. | BNP
Joel Serrão (1919-2008)
MOSTRA | 16 set. – 16 nov. ´19 | Sala de Referência | Entrada livre
Figura cimeira da historiografia e cultura portuguesas na segunda metade do século XX, Joel Serrão afirmou-se no meio intelectual português a partir dos anos da II Guerra Mundial, com intuitos de renovação cultural e intervenção pública norteados pelo apostolado sergiano que o acompanharia, por vezes criticamente, ao longo da vida.
À semelhança de outros intelectuais da sua geração, a sua obra denota uma multitude de interesses, desde a inicial propensão filosófica presente na sua tese de licenciatura ou nas antologias que publicou nos anos seguintes, passando pelos estudos literários – Pessoa, logo em 1945, e muitos outros que contribuiu para resgatar do esquecimento ou do panegírico. Mas seria na historiografia que veria satisfeitos os seus diferentes interesses, primeiro no estudo de momentos-chave da história portuguesa (1383-85, 1640), depois o século XIX. Logo no início dos anos 1950 delineia um programa metodológico e de pesquisas que o irão ocupar nas décadas seguintes. Influenciado pelos Annales (Lucien Febvre, sobretudo), pretendia trazer valores e práticas da investigação científica para uma época ainda em grande medida desconhecida. Uma tarefa hercúlea de desbravamento das mais variadas perspectivas da sociedade oitocentista portuguesa, traduzida em estudos, ensaios, sondagens, hipóteses, revelação de fontes inéditas – parte significativa desses trabalhos reunidos nos Livros Horizonte. Obra fragmentada na sua disposição, mas não na sua inteligibilidade, fruto de um esforço de relacionação das diferentes perspectivas de um passado entendido na sua totalidade. Ainda assim, faltou uma opus magna que sintetizasse toda a sua investigação, projecto que ambicionou mas que infelizmente não pôde concluir.
O seu reconhecimento público esteve também associado à coordenação do Dicionário de história de Portugal, obra marcante deste período que cristalizou simbolicamente o estado da historiografia portuguesa durante os anos 60, com os seus 139 colaboradores das mais diferentes proveniências teóricas, ideológicas e institucionais. Menos de um terço são apresentados pela sua filiação a estabelecimentos de ensino superior e investigação nacionais, sinal de uma profissionalização e institucionalização ainda precárias quando comparado com outros países ou com épocas nacionais mais recentes. O seu percurso era, aliás, representativo: professor liceal durante mais de 20 anos, só a partir de 1972 assumiria lugar na universidade portuguesa, que até aí lhe tinha sido negado.
Se no regime democrático não se interessou pela intervenção política e partidária, tal não implicou desvalorização da dimensão cívica do historiador, assumida desde o início, com referências a Herculano, Oliveira Martins, Jaime Cortesão e António Sérgio nas suas reflexões sobre as funções sociais da história. Dimensão necessária mas problemática, como experienciou polemicamente em torno de conflituantes perspectivas sobre o percurso de Antero de Quental. E não revelavam alguns dos temas de investigação que privilegiou – industrialização, emigração, burguesia, sebastianismo, entre outros – um poliédrico questionamento do que entendia serem os problemas estruturais da sociedade portuguesa e da sua longa adaptação aos desafios da modernidade? A especialização em torno do século XIX não significou rejeição de uma visão conjunta do passado pátrio, nem de uma equação da história também a partir do presente. O passado não era uma lição do presente; o presente é que é lição do passado, como muitas vezes referia, citando Sampaio Bruno.
José Guedes de Sousa
Fonte: bnportugal.pt
Outros artigos em Divulgação Cultural:
CICLO DE DEBATES | Camões: Ciclo de debates na BNP – Comemorar Camões: Porquê? Para quê? | 23 out. ’24 | 17h00 | Auditório
No âmbito das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões, a Biblioteca Nacional de Portugal acolhe a realização de um ciclo de debates ou mesas-redondas destinados a envolver o público na discussão sobre os desafios colocados pela figura, a biografia e a obra de Luís de Camões
Pintura – Linhas Paralelas – Fátima Branquinho e Bela Branquinho
Na próxima exposição do ACMP, “Linhas Paralelas”, poderemos apreciar alguns dos recentes trabalhos das pintoras, FÁTIMA BRANQUINHO e BELA BRANQUINHO, que, sendo irmãs, juntam nesta parceria artística afirmações estéticas bem diferenciadas
DEBATE | Heranças de Maio de 68 | 15 out. ’24 | 17h00 | Auditório
A Ideia, então «órgão anarquista específico de expressão portuguesa», foi fundada por João Freire em Paris em abril de 1974. Era, de certa maneira, uma herança do espírito de “Maio de 68” que se queria fazer alargar, também em língua portuguesa
APRESENTAÇÃO E CONFERÊNCIA | A trajetória dos CASTRATI na corte luso-brasileira (1752-1822) | 8 out. ’24 | 17h30 | Auditório
Os castrati (meninos castrados para fins musicais) foram o maior fenómeno vocal de todos os tempos. Exerceram um imensurável impacto na história da música vocal europeia e foram os responsáveis pela génese do bel canto italiano.