Este espantoso quadro, é um pequeno fragmento que resultou de uma tentativa de reconstrução daquilo que se sabia ter sido a obra encomendada pelas autoridades vienenses ao insigne pintor. Na realidade, o mesmo, o mais reconhecido de todos os da sua geração, naquela que se pode considerar, com toda a propriedade, a capital intelectual do Mundo, na transição do século XIX para o século XX, tinha pintado algumas obras para serem colocadas nos átrios das principais faculdades dessa maravilhosa cidade, capital de um império que viria, alguns anos depois, a “dissolver-se” na grande Alemanha, sob a égide do trucidador poder nazi. A Faculdade de Medicina fazia parte desse precioso conjunto, tendo sido, no despontar da II Guerra Mundial, literalmente apagada da memória dos tempos pela voracidade destruidora do regime de Hitler, que denominava este género de expressão pictórica de “arte degenerada”. Assim a descreveu o Prémio Nobel da Medicina no ano 2000, Eric Kandel, um famoso neurocientista, autor do livro “The age of the insight”, que aí nasceu e se radicou nos EUA, pois era judeu e teve de fugir, com os seus pais, para não ser dizimado como os seus “irmãos de sangue”, tal como aconteceu ao original desta obra.

Contudo, tal como as obras fruto da inventiva artística dos Homens, os valores éticos civilizacionais devem ser perenes e inspiradores, o que por maioria de razão se deverá aplicar ao exercício da Medicina. O autor deste quadro é que nunca chegou a saber destes factos, pois viria a falecer, também no dealbar do final da I Guerra Mundial, vítima (como tantos outros), da já aludida “gripe espanhola”.