RAZÃO de SER
Medicina: Cultura, Ciência e Humanização
José Manuel Domingues Poças
Após alguns meses de maturação e de uma primeira experiência introdutória, estou agora em condições de poder iniciar a divulgação do meu site pessoal.
O lema é Medicina: Cultura, Ciência e Humanização, onde pretendo divulgar algumas informações de carater geral e pessoal, estabelecendo certas analogias pouco conhecidas e valorizadas entre a Medicina e outras áreas do saber e das artes, com interesse, quer para profissionais, quer para outros cidadãos com atividades fora do âmbito da Saúde (tanto os doentes, como os supostamente saudáveis).
“Rhapsody in Blue”
George Gershwin
Entendo que, para quem trabalha neste difícil metier, não será difícil constatar que os tempos são de profunda (mas pouco assumida) crise, não só económica, mas sobretudo de valores perenes e de genuínas vocações. Cada vez me vou convencendo mais de que existe um fosso notório e crescente no seio da comunidade dos diplomados em Medicina: Os que são clínicos, os que, não o sendo e trabalhando na execução de exames auxiliares de diagnóstico ou de técnicas, ou ainda na planificação e análise dos determinantes em Saúde ou na Política (com letra grande), nunca perdem de vista a noção de que o seu trabalho é igualmente fundamental para compor com a necessária adequação e inteligibilidade o puzzle imprescindível para se chegar a um diagnóstico correto (clínico, psicológico e social), logo, ao melhor tratamento possível do doente (e dos cidadãos), e que quando vêm uma imagem de um fragmento do corpo de um anónimo ser humano (no computador, no microscópio, etc.), quando manipulam um qualquer dos seus produtos biológicos, quando executam um determinado procedimento mais ou menos invasivo, quando fazem ou analisam um qualquer relatório, ou quando legislam sobre a regulamentação deste complicadíssimo setor, nunca se esquecem que toda a sua ação se repercute, direta e indiretamente, antes de tudo e todos, em alguém de carne, osso e alma que está em sofrimento e que necessita assim do seu decisivo contributo, e… os outros! Os que só vêm cifrões e contrapartidas financeiras (muitas vezes em proveito próprio e com origem especulativa), ou, igualmente condenáveis, os que só se preocupam com a sua fama e em serem socialmente colunáveis à custa da propaganda desmesurada dos seus êxitos individuais, ou ainda os que estão confortavelmente sentados a uma secretária dos múltiplos departamentos (oficiais ou privados), exercendo o seu poder de forma autista e despótica, utilizando constantemente eufemismos linguísticos para tentarem esconder a sua repugnante hipocrisia e a sua soez indiferença para com quem sofre e para os que têm por missão primeira e última aliviar a Dor física e psicológica, e restituir a autonomia possível (os do primeiro grupo).
Endeusar a tecnologia como a nova solução milagreira de todos os males do Corpo e do Espírito, olvidando a (nossa riquíssima) História coletiva, a (veneranda) Tradição dos Grandes Mestres, a (intemporalidade) da Deontologia ou da Ética do nosso Mister, será equivalente a pretender transformar os Homens em asséticas formulas matemáticas ou em meras máquinas descartáveis e sem alma, em vez de as colocar antes ao serviço do Bem Comum e de uma Humanidade necessária e saudavelmente heterogenia no que concerne à sua etnia, às suas crenças e às suas tradições, mas na qual os Cidadãos jamais perderão a capacidade de se emocionarem perante o sofrimento ou a injustiça (característica absolutamente distintiva de todo o Ser Humano), numa Sociedade em que ninguém é mais importante do que qualquer outro dos seus semelhantes, mas antes uma peça integrante de um Todo que vale muito mais por ter a capacidade de acolher em vez de excluir.
Os tempos atuais exigem pois que não deixemos de marcar uma posição sem quaisquer falsos subterfúgios, em que cada um dá o seu generoso contributo possível para esta, reputo, nobre causa, até porque, em concreto, no nosso País, presentemente, a “caixificação” da prestação dos cuidados de saúde regista um avassalador e mais do que nefasto incremento, vivendo contudo numa aparente e anónima ilegalidade, e tal é tudo menos o que o doentes verdadeiramente necessitam, tornando assim o desempenho do Médico numa torpe caricatura daquilo que deveria ser a essência básica da sua Missão. É que ser Médico e exercer Medicina não é uma profissão como as demais. Tão só porque a saúde e a doença, a vida e a morte, o sofrimento e o bem-estar físico e emocional são tudo menos irrelevantes, mas antes aquilo que mais prezamos. Porque a defesa intransigente destes valores é a nossa mais preciosa herança civilizacional coletiva, dado que estamos investidos no honroso e intemporal papel de sermos os mais interessados e competentes advogados de defesa dos nossos doentes.
Este é apenas o meu modesto mas sincero contributo. Venham outros. E melhores.
José Manuel Domingues Poças