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quadros comentados

“Transfusão de sangue de cabra”, “Sangria”, “Alexei Nikolaeevich – Tsarevich”

“Transfusão de sangue de cabra”, “Sangria”, “Alexei Nikolaeevich - Tsarevich”
“Transfusão de sangue de cabra” (1892) (Jules Adler, 1865-1952), “Sangria” (1666) (Jacob Toorenvliet, 1640-1719) (Coleção Wellcome), “Alexei Nikolaeevich- Tsarevich” (1917) (Anónimo Russo)
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Desde sempre que o sangue foi encarado por todas as civilizações como símbolo da própria vida. Daí, as tentativas, bastante remotas, de que os dois primeiros quadros são bons exemplos, de se tratar as doenças, ora administrando sangue, sempre que se presumia que estivesse em falta, ou de se expurgar o mesmo, quando se pensava que a doença seria, antes, resultante de algum “veneno” que tivesse entrado em circulação. Claro que, no contexto específico da época em que tudo isto se passa (seculos XVII, XVIII e XIX), muitas destas intervenções, ou seriam neutras, relativamente à evolução natural das doenças em causa, ou seriam, mesmo, nefastas, pois a ciência médica estava ainda muito imbuída de um empirismo muito pouco científico. Um dos exemplos de doenças que comportavam perigo de vida, nesses recuados tempos, era a hemofilia, que, como se sabe, tem carácter genético e afetou bastante a casa real dos Romanov, na Rússia czarista (como se exemplifica no terceiro quadro), e os seus primos da casa real inglesa, na época vitoriana. Esta doença, tem, hoje, felizmente, um tratamento substitutivo muito eficaz, que permite uma longa sobrevida, com muito razoável qualidade de vida, mas, nem sempre foi assim. As hemorragias espontâneas ou consequentes a pequenos traumatismos, deixavam frequentes sequelas, sobretudo ao nível articular e, antes de se dispor dos medicamentos sintetizados por engenharia genética, muitos destes doentes foram tratados com derivados de sangue que, sem se saber, eram veículo de infeções víricas muito graves (de que são exemplo, os vírus das Hepatites B, C e Delta e o HIV) que vitimaram muitos milhares de afetados, até finais do século XX. Ou seja, o medicamento era, não só, o tratamento, mas igualmente o veículo da própria morte.

Por isto, temos sempre de ser muito parcimoniosos e ter muito bom senso na indexação da inovação farmacológica no armamentário terapêutico, para se dar o tempo necessário a que os seus efeitos acessórios, eventualmente ainda não relatados, possam, eventualmente, surgir. O que, de modo algum, retira o valor da mesma e a necessidade da sua utilização muito precoce, desde que os benefícios esperados suplantem os riscos estimados, sobretudo quando se fala de doenças de grave prognóstico e desprovidas de outra melhor terapêutica disponível, ou quando exista progressão sob esta. Desnecessário se torna enfatizar o quanto tudo isto pode pesar no âmbito da relação médico-doente, bem como na sustentabilidade económica dos sistemas de saúde.

 

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