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“O último juízo e a caridade”, (pormenor), “Criança”

“O último juízo e a caridade”, (pormenor), “Criança”

“O último juízo e a caridade” (1520) (Bernard Orley, 1491-1542), (pormenor) (idem), “Criança” (1642) (Jusepe Ribera, 1591-1652)

Citação em destaque

A qualidade de vida não significa, obrigatoriamente, uma longa vida. Os aspetos funcionais e a capacidade de autossuficiência são fundamentais para que cada ser humano possa dizer que se sente efetivamente feliz. Não ter dor. Ter um sono reconfortante. Ter prazer quando se relaciona com os outros, na seio da família ou no trabalho, quando come, quando bebe, quando sente o odor de um perfume, de uma iguaria, ou do(a) amante, quando contempla o(a) companheiro(a), os filhos, os pais, os netos, os irmãos, os colegas, os vizinhos, uma paisagem, um poema ou uma tela, em férias ou na lufa-lufa do dia-a-dia, quando escuta o primeiro choro do primeiro filho, o gemido do prazer sexual do(a) parceiro(a), ou a melodia preferida, quando sente o enérgico aperto de mão de um amigo de longa data ou a carícia de alguém a quem nos ligam laços afetivos significativos, tudo é fundamental para a realização de cada um de nós, embora cada qual seja livre de ter as suas naturais preferências no como, no quando e com quem. Ou com mais ninguém!

Durante muitos séculos, e ainda hoje, para as pessoas conseguirem esse objetivo, sobretudo quando algo de enigmático ou de natureza aparentemente intransponível as afetava, a tendência imediata, baseada na tradição, nos costumes, e nas crenças, era (e é-o ainda, em muitas culturas e para muitos) apelar à divina intervenção dos deuses, tal como se pode observar no primeiro dos quadros aqui apresentados (e no pormenor, em ampliação). A natureza das doenças era amplamente desconhecida nessa altura (e, mesmo hoje, há ainda muito para saber e para conhecer), e, quando a deficiência nem sequer era tão grave assim, até poderia permitir um sorriso ténue e tranquilo, tal como se pode observar no segundo quadro do grande pintor valenciano, Jusepe Ribera, que retrata uma criança nitidamente padecente de “pé boto”.

O conceito médico de reabilitação é, pois, tão importante, quanto pouco específico e muito diverso, sendo certo que não é por isso que deixa de ter candente importância.

 

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